
Comecei a acompanhar a Mostra de dança Verão antes mesmo de começar a dançar, lá pelo início dos anos 1990. E o que me chamava a atenção desde aquela época era a oportunidade de ver uma multiplicidade de danças naquelas noites de janeiro. Vários grupos, companhias e escolas de diferentes estilos, ainda que naquela época o balé e dança contemporânea predominassem na programação. Antes mesmo do Porto Verão Alegre apostasse que havia público pra produção local em meio à temporada de férias, o evento da dança já mostrava isso com sucesso em noites lotadas no Teatro Renascença já no comecinho do ano, em janeiro na calorosa Porto Alegre.
De espectador passei a coordenador do Centro de Dança, em 2005, e uma das primeiras ações foi de retomar evento, depois de dois anos de interrupção. Em 2006, voltamos a incluir o evento no calendário cultural da cidade e o novo contexto desde então vem confirmando seu êxito e a amplitude de seu alcance em diversidade e quantidade. A edição que começa nessa quarta feira, dia 9, vai reunir mais de 400 artistas da dança e estudantes, num evento não competitivo onde o que importa é revelar a pluralidade e qualidade da produção feita aqui na capital.
E a programação desse ano ajuda ainda a gente a pensar como essa produção vem se estabelecendo e fornece, a quem quiser ver, um panorama que muitas vezes passa despercebido. E é sobre esse panorama que me interessa analisar e perceber o que revela, nas 82 coreografias selecionadas dentre os 145 trabalhos inscritos. Esse dado quantitativo permite tanto verificar uma significativa produção. Afinal ter quase 150 coreografias aptas a se organizar e ensaiar em pleno período de férias é o final do empenho de uma arte que segue encontrando formas de seguir em frente. E mais do que isso, a afirmação de um mercado de trabalho pulsante, que segue enfrentando os desafios de se manter. Mesmo os que não profissionais atuantes em grupos e cias, são resultado de trabalhos de profissionais que atuam em escolas estaduais, municipais, particulares, centros de formação, projetos sociais. E é bacana ver que esse investimento de profissionais gera essa gama de trabalhos e muitas vezes essa visibilidade ajuda a promover a continuidade dessas iniciativas.
Mas além da quantidade, temos a afirmação do que os últimos anos vêm revelando: a ampliação da multiplicidade de linguagens e da afirmação de algumas danças que por muito tempo ficavam à margem das programações. Na seleção de 2020 tem obras de balé, danças urbanas, dança contemporânea, jazz, dança do ventre, flamenco, dança inclusiva, dança de salão, dança afro, tap dance, dança cigana e danças folclóricas, incluindo a celta. Tem obras de grupos e escolas profissionais e amadores/estudantis. A dança se multiplicou, encontrou novos segmentos e públicos ou ainda, afirmou outros que ficavam à margem.
E nesse cenário muitos saem ganhando me parece. Afinal na programação aparecem trabalhos de coreógrafos destacados no estado e no país como Rui Moreira que assina Felicidade, para o grupo Diversos Corpos Dançantes e Matheus Brusa criador do solo Identificações, dançado por Gracielli Lattuada. Em cena ainda destacados grupos como Ballet Concerto com Divertissement, (Diana e Acteon, Talismã e Pas Paysant de Gisele), da grande mestra Victória Milaneze o Tablado Andaluz, da Andrea Franco, patrimônios da nossa capital. Ao lado de novos espaços no a Nova Estação, a Zathus e o Espaço n, entre outros.
A programação revela ainda a força da dança do ventre e tribal com 20 coreografias presentes incluindo artistas como Karine Neves, Aline Mesquita, Bruna Gomes, Nandah Cardoso, Priscila Escobar, Nadima Murad, Fernanda Zahira Razi, Bárbara Kale, Hölle Carogne, Ciane Matte, Silvana Ferrarelli, Anath Nagendra e Mylene Murad. E também revela a significativa participação de trabalhos de dança de salão (Gafieita Club, Oito tempos, Kirinus e Nunes Centro de Dança, Taydancer’s e Naira Anthunes Cia de Dança) e flamenco, superando os trabalhos de balé e até mesmo de danças urbanas que marcam presença assim como o sapateado da Cia Claquê, o jazz da Fernanda Sesterheim e da Carol Danni e as dança cigana de Carmem Rosca, Juliana Lorenzoni.
Aparecem também o resultado de projetos sociais e escolares da periferia com a participação das Escolas Preparatórias Alberto Pasqualini, Liberato Salzano e Loureiro da Silva, assim como Projeto ONG Renascer, da Restinga, com criação de Daniel Santo.
Jovens criadores se alinham também. Uns frutos da nova geração como Tales Sequeira, que dá continuidade ao trabalho já desenvolvido pela mãe Naira Anthunes ou ainda Andressa Pereira e seu pequeno Inácio Pereira, de apenas 8 anos em Run, boy run. Frutos dos cursos de dança de universidades públicas e do Grupo Experimental de Dança, como Paula Finn, Syl Rodrigues, Helena Paz, Escobar Junior, Kynaê Primon, Tainá Barboza, Fernanda Majorczyk. Frutos do investimento na dança em escolas municipais como Iago Poersch, Letícia Santiago, Jéssica Paim e Eduardo Czerner.
E já passou o tempo de precisar provar que dança não tem idade. E por isso já são presenças esperadas os grupos da melhor idade, como já tradicional CDEG coordenado pelo Edison Garcia, e o Girargirar, coordenado Jaqueline Musse.
Integram ainda a programação o Movimento Meninas Crespas, com Oxum, entre o doce e o ácido, de Perla Santos, onde danças as filhas, mas também dançam as mães, afirmando sua ancestralidade. E está lá também o andarilho conhecido como o “Bailarino de Ipanema” com A bola da vez.
E muito importante também ver que a dança inclusiva não fica apenas restrita a eventos direcionados a esse segmento e traz o Grupo Cênico Coração Balão e o Diversos Corpos Dançantes/UFRGS para cena com os demais grupos e escolas.
Como todo panorama, indica uma série de coisas, o movimento da produção. Importante observar o que esse recorte revela e seguir percebendo o movimento da produção para poder entender e levar em conta esse “retrato” junto com outros, que, se não diz sobre tudo, nos diz sempre muito sobre a dança que aqui se faz, independente que quem goste ou não desse recado. Um recado que é animador e assinala que a dança segue firme, diversa e disposta a abrir espaço e partilhar protagonismos.
Fotos: Nando Espinosa
Dia 9 – Quinta-feira
Estúdio de Dança Maria Cristina Futuro – Aerodynamic – Patrícia Futuro Bittencourt
Escola Preparatória de Dança EMEF Senador Alberto Pasqualini – Fuga – Escobar Junior
Grupo Cênico Coração Balão – Coração Balão – Maria Albers
Anath Nagendra – Melinoë, Deusa da Loucura – Anath Nagendra
Escola Preparatória de Dança EMEF José Loureiro da Silva – Origem – Eduardo Czerner
Grupo de Dança Giragirar – Wannabe – Jaqueline Musse
Caleo Alencar e Caru Arisio – Além da Razão – Caleo Alencar
Grupo de Dança Liberato/GDL – De volta ao passado – Letícia Santiago e Jéssica Paim
Grupo Zahira Razi – Dil Gaya – Fernanda Zahira Razi
Andressa Pereira – Prelúdio em Mi Menor, Op. 28, No 4 – Andressa Pereira
Naira Antunes Cia de Dança – Pela própria natureza – Tales Sequeira, Naira Antunes e Tovar Passaia
Escola Preparatória de Dança EMEF Senador Alberto Pasqualini – Esse ano eu não morro – Helena Paz e Italo Ramos
Zathus Espaço de Dança – Let’s Dance – Syl Rodrigues
Tayná Barboza – Before Flight – Tayná Barboza
Cia Nrty – Pinga Ga Pore – Amelize de Mattos Pereira
Filhas de Biloca no Sul – Origens – Fernanda Machado e Simone Ribeiro
Kristian Galvão Estudio de Danças – Dança do Ventre – Ciane Matte
Tubinos Dance – Tubinos Dance – Clarissa Américo
Escola Preparatória de Dança EMEF Senador Alberto Pasqualini – Noite Estrelada – Iago Poersch
Andressa Pereira e Inácio Pereira – Run boy run – Andressa Pereira e Inácio Pereira
Syl Rodrigues – Afkoms Corpus – Syl Rodrigues
Studio F Cia de Dança – Reencontros – Fernanda Sesterheim
Cia Jovem de Dança de Porto Alegre – Parmi – Driko Oliveira
Dia 10 – Sexta Feira
Diversos Corpos Dançantes – Felicidade – Rui Moreira
Ballet Concerto – “Divertissement” – Victória Milanez
Al-málgama – Caixinha – Bruna Gomes e Paula Trombetta
Aline Mesquita Dança do Ventre – Arab Rock – Aline Mesquita
Espaço N – Páginas diferentes de uma história – Driko Oliveira
Narciso – Prenúncio – Kynaê Primon
Al Raqs Escola de Danças Árabes – Raks El Amera – Silvana Ferrarelli
Gracielli Lattuada – Identificações – Matheus Brusa
Liberdance – Ligação – Leandro Rosa
Ballet Gisele Meinhardt – Carmen – Alberto Alonso
Espaço N – e(X)pera – Rafaela Machado
Nova Estação Escola de Artistas – Entre as Partes – Carol Danni Stein
Danç’Arte Escola de Dança – Lovely – Danielle Mescouto
Studio Dançarte com Amor e Arte – Velha Infância – Bruna Borges
Naira Antunes Cia – Skyfall – Tales Sequeira
Palco Espaço de Dança – Carne Viva – Sílvio Falkembach
Kirinus e Nunes Centro de Dança – Alma de Zouk em Opereta Romântica – Edson Nunes, Daniel Bitencourt e Virginia Peixoto
Duo Fiicele Vântului – Dançando com a Alma – Sumaya Circulo das Salamandras
Escola de Dança Karin Ruschel – Falling – Fernanda Santos
Dia 11 – Sábado
Renascer da Restinga – Urban Blue – Daniel Santo
Cia de Dança Edson Garcia – Tango/Samba – Edson Garcia
Hölle Carogne – Black Opium – Hölle Carogne
Taydancer’s – No ritmo da salsa – Tayná Pires
EPD José Loureiro da Silva – Cota – Anderson Mendes, Liane Carvalho, Natasha Mello e Gustavo Conceição
Alma Mater Grupo de Danças – A alegria da Caravana Cigana do Egito: As ghawazee chegaram – Gisele Notti, Jéssica Prestes, Magda Vieira, Mara Duarte
Grupo Mandal’azad – Chandelier – Grupo Mandal’azad
Carmem Rosca – La Vie – Carmem Rosca
Zathus Espaço de Dança – Blackout – Brenda Campos e Carolina Santos
Grupo Trelissa – American Tribal Style – Bárbara Kale
Fernanda Majorczyk – Nostalgia – Fernanda Majorczyk
Gafieira Club/Dança de Salão – Luz de Esperança – Jean Rangel
Espaço de Danças Karine Neves – Tribalize – Karine Neves
Studio Dançarte Com Amor e Arte – Nuestro – Bruna Borges
Studio Verri – El Chama – Bruna Verri
Estúdio de Danças Juliana Lorenzoni – Rumba Gitana – Juliana Lorenzoni
Grupo Zahira Razi – Mulher Kanâ – Fernanda Zahira Razi
Al Hawa – El Leilah – Marina Peretto
Mães Crespas do Movimento Meninas Crespas – Homenagem às baianas da Bahia – Mara Nunes
Dia 12 – Domingo
Escola Tablado Andaluz – Fandangos de Huelva – André Franco
Paula Finn – Julieta en Soleá – Paula Finn
Escola Filhas de Rá – Dark – Priscila Escobar
Estúdio Nandah Cardoso – Mistérios do Oriente – Nandah Cardoso
Slàinte Danças Celtas Brasil – Poutpourri de Danças Celtas – Gisele Notti, Matinahi Miranda, Paola Gama e Luiza Jorge
Cia Claquê – Igual Diferente de Fato – Cia Claquê
Carmen Pretto Grupo de Dança – Un Aire más vivo – Carmen Pretto
Bailarino de Ipanema – A bola da vez – Bailarino de Ipanema
Al-málgama – Abuso – Bruna Gomes
Movimento Meninas Crespas – Oxum, entre o doce e o ácido – Perla Santos
Priscilla Silvestri Espaço de Dança – Leveza – Priscilla Silvestri
DançArte Estúdio de Dança – Ritmos do Coração – Ana Al Zahra
Kristian Galvão Studio de danças – Bons costumes – Ciane Matte
Espaço de Danças Karine Neves – Resilience – Karine Neves
Equipe de Shows Nadima Murad – Fênix – Nadima Murad e Mylene Murad
Cabriolle Studio de Dança | 8 Tempos – Belivier – Wagner Camargo / Leticia Viana
Estúdio Nandah Cardoso – Chamamé, Alegria da Gauchada – Nandah Cardoso e Adriano Martins
Grupo de Dança Oito Tempos – Tonix/Soltinho – Cristovão Christianis
Zahara Núcleo de Arte e Cultura Flamenca – Bambera – Andressa Porto