Uma cena pra lá de borbulhante

Dentre as boas surpresas da produção dessa cena midiatizada está o Borbulha Mini Festival Virtual que se propõe a promover o encontro da dança contemporânea com a internet e conectar artistas e suas inquietações na rede. O movimento “Dança na Web” conta com a participação de mais de 100 artistas que colaboram com a criação da uma biblioteca de dança online pra lá de diversificada, descolada e posicionada. 

Em Dramaturgia de um meme de @ducapaulalopes temos como trilha sonora um áudio do presidente Jair Bolsonaro e seu discurso (i)lógico de encarar o Corona Vírus. A intérprete se veste a rigor, de terno e gravada, enquanto a dança acontece em perspectiva lá no fundo do quadro que tem em seu primeiro plano um grupo de dinossauros de plástico a cercando.

Outra dessas instigantes produções é Aproveito pra dançar com os livros de @ca.ro.lina_souzamartins que em meio a pilhas de livros cria uma outra identidade para um corpo sem rosto que tem membros que emergem das páginas. Em TOC, de Alice Rodrigues @licerodriguess, a paranoia de higiene despertada pela pandemia faz um aflito exercício. A intérprete dança embaixo do chuveiro com vestido e tudo, buscando uma suposta e angustiante purificação sem fim. Tem as inteligentes soluções de Julia Gil @jugil001 em Peso de Consciência numa performance capilar/cerebral com fluência e articulação, uma quase tradução da nossa insustentável leveza de ser. Há também uma pequena obra-prima, o solo de Alexandre Maia @dandimaia num trabalho solo inspirado em pinturas de Egon Schiele, num primoroso e envolvente jogo de luz e sombras e movimento.

Destaco alguns trabalhos que me fisgaram, entre muitos outros, mas esse arquivo é uma preciosidade por inteiro e vale mesmo é trafegar por eles. Primeiro porque assim se consegue fazer um painel das danças possíveis nas contingências a que estamos submetidos. Mas, além disso, é um dinâmico e multifacetado documentário, uma crônica em movimento que não encontrará tradução em nenhum outro discurso que não o testemunho desses corpos que resistem em dança.

E as ações do Borbulha não se esgotaram aí nessa importante sistematização desse material, o Festival também criou um Grupo de estudos em dança com a proposta de leituras de textos, vídeos de dança e aulas de prática corporal em 6 encontros gratuitos pela plataforma Zoom. Assim como vem promovendo também Conversas em rede, vozes em movimento que reuniu artistas e pesquisadores como Ana Mundim, Wagner Schwartz, o pessoal da Hibridus, e André Masseno entre outros.

Essa iniciativa bacanérrima foi uma criação do Filipe Vian e indica uma produção que pode sair também ganhando nesse contexto que se configura. Vale trafegar por lá : https://www.instagram.com/borbulhafestival/?hl=pt-br

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