Porque o show não pode parar

Fazer arte no nosso país hoje, na nossa cidade é cada vez mais um feito e tanto. Comemorar a permanência artística, portanto, já é um êxito. Comemorar cinco anos de existência então é bem bacana. Comemorar cinco anos com uma intensa produção, com uma identidade própria e um nicho de público fiel é motivo de sobra pra festejar. Então está de parabéns o Macarenando Dance Concepet. Por isso, no caso, os muitos comentários sobre o espetáculo ficam em próximo momento, pois o que cabe acima de tudo é a comemoração de cinco anos desse singular coletivo de artistas. E nesse sentido a escolha de Das tripas sentimentos 2018 foi a escolha acertada para o encerramento da programação do final de semana no Theatro São Pedro. Memória e atualidade se mesclam, para a celebração e a afirmação de existência.

Os últimos anos vêm decisivamente redesenhando os modos de estruturação dos grupos de dança na cidade. Muitos coletivos vêm se constituindo. E a maioria desses coletivos se configura com jovens artistas que buscam alternativas de organização pra começar a enfrentar o desafio da manutenção. O Macarenando é formado por artistas com uma significativa trajetória na cena local e oxigenado por jovens integrantes. E isso é um dos aspectos bacanas, somados a uma horizontalidade de produção menos hieraquizadas.

Além disso, outros aspectos que sempre valorizei, o da manutenção de um repertório diversificado, mais fundamental ainda em tempos de crise. Não só para diversificados públicos, como de diversificados formatos, do Dance a Letra à Casa do Medo, o que tem proporcionado alternativas viáveis à sua existência.

Então que acontecimento emocionante ver em cena juntxs em Das tripas sentimento, ao som de Elis Regina, a maturidade artística de Dani Boff, Denis Gosch, Diego Mac, Joana Amaral, Nilton Gaffree Jr., Rossana Scorza, Thais Petzhold, sob a batuta da June Machado. E todxs atualizando uma importante montagem, originalmente criada em 2000. Com irreverência e humor o Macarenando dá seu recado e inventa seu jeito de resistir e insistir. E daí como não lembrar de uma remota noite lá por 2005 ou 2006 (talvez a memória me traia), num apartamento da Cidade Baixa quando Diego Mac  e eu assistíamos às gargalhadas a cena de Maracena, no espetáculo The show must Go on, do francês Jerome Bel. Porque afinal independente das escolhas estéticas, o importante é poder seguir, porque já que é pra dançar a letra nada melhor dançar  anunciando que acima de tudo e de todos, o show tem que continuar. E se for pra apagar a velinha, que seja daquelas bem teimosas, pra seguir acendendo enquanto se tiver fôlego.

11/08/2019

Foto: Claudio Etges

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s