Sobre dividir percepções e puxar conversa

O CENA.TXT chegou a mais de 2 mil visualizações nso seus dois meses de existência e só hoje ultrapassou 600 visitas daqui e do México, Argentina, Espanha, Egito, Portugal, Estados Unidos, Equador, França, Itália, Reino Unido. O que deve ser bastante irrisório para digital influencers e youtubers pra mim é suficientemente alarmante. Não pelo valor absoluto, mas pela responsabilidade. O blog foi criado despretensiosamente pra repartir minhas percepções, tentando fazer um modesto registro de como a cena local de artes da cena me afeta e o que de certa forma pode representar no contexto dos nossas dias. Em momento algum foi anunciado como ou desejou ser um espaço de críticas de espetáculos. Escrevo sobre o que me interessa, sem formato definido, nem limite de caracteres, nem regularidade das postagens, com uma linguagem mais despojada que consiga, que não precisa seguir nenhum manual de redação ou regras da ABNT, apenas de algum bom senso que ajude na compreensão.

Por isso, é uma alegria e uma preocupação o alcance que começa a tomar. Alegria por ter sinalizar que há um bocado de gente interessada nas artes da cena que mobiliza esses pagos, do sul do Brasil. E que de certa maneira comungamos por um comum, um encanto por essa produção que abre mão do massivo pra insistir no encontro, na feitura artesanal. Mas ao mesmo tempo, com isso, brota a preocupação de lembrar o que se pretende com esse espaço. E daí, vi num dos compartilhamentos de um dos textos publicados a seguinte conversa:

“Uma visão bem interessante, hein”

“também achei! Mas eu discordo num ponto”

“eu discordei sobre algumas coisas também… Por isso achei interessante…”

Isso talvez essa seja a melhor tradução do que eu poderia esperar. Um interesse não por reproduzir um pensamento homogêneo, de concordância, mas por poder despertar o interesse na sintonia e nas dissonâncias, de deslocar entendimentos, de deixar também o pensamento requebrar. Isso é o que estabelece um possível trânsito de ideias. Não escrevo para concordarem, nem para ensinar alguma coisa ou indicar como devia ser feita alguma coisa. As percepções dos textos tentam traduzir como sou afetado. E que maravilha que não somos todos afetados da mesma forma. É nas diferentes perspectivas que nos construímos e construímos outros e construímos o mundo. Não só com as nossas convicções. Somos feitos também dos outros.

Já tive momentos em que uma perspectiva diferenciada me fez modificar coisas que não tinha me dado conta e foi uma delícia. Em 1999, a generosa Liane Venturella assisitiu a uma estreia minha e apontou cada coisa que me fez passar o dia seguinte modificando o espetáculo, que acabou ganhando vários prêmios naquele ano. Não porque ela disse que tinha que ser assim, mas porque o seu olhar me nutriu de caminhos que não tinham sido cogitados e me interessavam muito percorrer. Outras vezes, ouvi ponderações que não encontram eco algum na minha produção e tudo seguiu como estava. Enfim, pra mim a conversa sobre o que se produz em cena foi decisiva pra escapar de ficar ensimesmado.

Afinal o bom é essa conversa saudável, que pondera, que levanta aspectos, que faz a gente silenciar e ficar remoendo ou retrucar pra si mesmo. Mas não necessariamente fazer um embate por algo absoluto. Por isso minha alegria que notar que o Cena.txt está podendo trazer elementos pra apontar modos de feitura, mas também pra questionar, sem a pretensão de decretar verdades, mas para deixar surgir curiosidades e interesses, da mesma ordem ou não. Afinal o mundo só se completa com uma multiplicidade de perspectivas singulares e capazes de um comum saudável e diversificado. Enfim, CENA.TxT é um pretexto pra puxar conversas e jamais para encerrá-las. Obrigado por esse começo de conversa!

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