Réquiem ou a dança que recusa o fim

Em uma entrevista, o escritor Milan Kundera sentenciou: “o que nos apavora na morte não é a perda do futuro, e sim a perda do passado. O esquecimento é uma forma de morte que está sempre presente na vida.” E nesse sentido, a arte tem um papel preponderante. É nesse universo que mergulha a encenação de Réquiem, com direção e interpretação do bailarino e ator Igor Pretto. Uma montagem inspirada na obra ‘Réquiem em Ré Menor’ de Wolfgang Amadeus Mozart, uma das mais consagradas missas fúnebres.

A escolha por essa clássica peça musical estabelece uma grandiosidade marcante e inevitável, não apenas na atmosfera sonora, mas que também de esboça nos recursos cênicos e expressivos. Há narrativa, há personagem, há figurino, há iluminação, há cenografia, há efeitos especiais, há coreografia, há projeções mapeadas. Há uma cena exuberante. Tudo dando um certo tom de barroquismo. Tudo a cuidado de uma equipe primorosa. E o que poderia ser excesso é um eficaz contraponto à solidão e isolamento de um homem que encara a morte, mergulhando num universo onírico de memórias fragmentadas às quais tenta organizar e de certa forma se agarrar.

Essa jornada se torna um deleite estético. São imagens vigorosas que vão se sucedendo. As memórias são retiradas de um baú enquanto o personagem tenta mantê-las ordenadas, unidas em um emaranhando de pedacinhos de recordações perdidas. E quanto mais se esforça nessa tarefa, mais ele vai se desfazendo, se desnudando, deixando-se banhar nas águas do seu inconsciente, se projetando num cosmos infinito.

Cada peça vai sendo minuciosamente apresentada, literalmente em quadros. As imagens vão chegando cheias de sentidos e significados à deriva. E o protagonista segue tentando desesperadamente se situar entre tantos elementos até se dar conta que na arte não há esquecimento porque ela se faz de potência de vida, mesmo quando lida com a morte. Especialmente se tratando de dança, o recado ressoa: cada gesto é efêmero e fugaz, acaba ao se anunciar, mas sempre pode ser ritualmente atualizado e portanto, de certa forma, se torna eterno.

Réquiem tem nova apresentação na sala Álvaro Moreyra, dia14/12, às 20h. Recebeu 5 indicações ao Prêmio Açorianos de Dança nas categorias Espetáculo, Intérprete, Destaque artístico, Destaque Técnico e Produção.

Ficha Técnica:

Direção Geral: IGOR PRETTO

Direção Cênica: ALEXANDRE DILL

Direção de Movimento: KATIA KALINKA

Preparação Corporal: EVA SCHUL

com IGOR PRETTO

Musica: W. A. MOZART

Cenografia: JORGE Gil

Desenho de Luz: FABRÍCIO SIMÕES 

Figurino: VINICIUS SCHUCH

Vídeos: GABRIEL PONTES

Design Gráfico: TIAGO GASPERIN

Produção: LETICIA VIRTUOSO

Fotos: JOSUÉ VERDEJO

Apoio: Centro Municipal de Dança, Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, GRUPOJOGO

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