
foto: Marcelo Cabrera
“tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea”. Essa é a definição de coisa, encontrado no dicionário. E por isso encerro 2022 fazendo um necessário tributo aos 20 anos de um grupo de dança que se ousou chamar-se “coisa”. Ousou, porque no nome afirma sua ética e sua estética de tudo que se possa. Uma proposta que esses nossos tempos precisamos de lugares de afirmação da diversidade que faz/pensa a dança e e por isso temos que agradece essa existência e manutenção, porque é assim que vem acolhendo, cuidando e potencializando dançantes ao longo da sua trajetória.
E tudo isso se fez sem jogar a técnica de dança pro lado, como alguns cacoetes contemporâneos insistem. Lu Paludo, fundadora e diretora do Mímese Dança Coisa parece que sentou do lado da técnica e conversou com ela e disse: tu és uma coisa que nos interessa, mas a partir do interesse que podes gerar em cada corpo que se move. Ao dar voz às técnicas que lhe formaram como artista e educadora, incluindo o balé, ela faz o movimento de afirmar e reconhecer todas técnica que os mais diversos corpos carregam e entregar à criação em dança.
O grupo nasce lá em Cruz Alta, interior do Rio Grande do Sul, como um projeto de pesquisa e extensão do curso de dança da UNICRUZ em 2002, com direção da bailarina Luciana Paludo. Em 2004 a companhia passa a ter o caráter independente e a se perguntar: O que dançar? Como dançar? O que se pode levar à cena? Como compartilhar com outras pessoas o que nos move? Inventar sensibilidades, na utopia de construirmos um corpo sensível.
E daí vieram trabalhos como Semelhanças, Os Humores do poeta, Um corpo bem de perto (de Luciana Paludo), Além Disso, Vai-te, Se a morte bater na minha porta, diga a ela que eu volto amanhã (de Mario Nascimento). Dessa história vieram projetos como “Luciana Paludo convida”, em 2016, e Degustação de movimentos “, em 2019, Projeto de Extensão, vinculado ao curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

foto: Claudio Etges
Em cada ação essa fidelidade a ser coisa, qualquer coisa, mas nunca uma coisa qualquer. Sem grande alarde, cada ação seguiu esse tempo todo abrindo espaço pras coisas de dança que as vezes não encontraram lugar. E daí suas utopias ( “u ‘”topos”). O lugar do corpo desautorizado, do gesto que não pode mais, da técnica que é desprezada, dos padrões que não encontram permissão. Lugar de corpos de intérpretes forjados em cena e no árduo trabalho de sala de aula e jovens artistas ávidos por experimentar.
enfim, término o ano reverência as coisas boas que temos a celebrar. E que elas mimetizem, pra gente seguir a dançar e sonhar, porque todas as coisas têm seu lugar. Obrigado Luciana Paludo por essa coisa toda.

foto: Claudio Etges