“Só a arte pode transformar a nossa vida”: porque no Festival de Dança das escolas de Imbé, todos saem ganhando

Qual a medida de alguém sair vencedor? É a premiação e o reconhecimento sempre limitado a alguns poucos? E se a gente ajustasse a lente e percebesse tudo que se sai ganhando, independente da pontuação, e entendesse como vitória tudo que se produz de melhor na gente e no mundo ao nosso redor? Nesse sentido a 9º Festival de Dança de Imbé, iniciativa da Secretaria de Educação, promoveu um bocado de vencedores e vencedoras. Nas tardes de 11 e ’12 de maio, na arena de shows do Parque de Eventos, o público pôde conferir coreografias das 7 escolas infantis e 6 escolas fundamentais numa grande celebração aos 35 anos da cidade. Foram centenas de jovens bailarinos e bailarinas em cena e uma plateia que misturava famílias, educadores, moradores e visitantes com muito a comemorar nessa iniciativa que faz a educação e arte mostrarem tudo que podem gerar num presente que se projeta num futuro, num mais promissor e esperançoso futuro.

Em primeiro lugar, em tempos de lamentáveis acontecimentos violentos em escolas, do desafio de fazer estudantes não abandonarem as salas de aula e de obstáculos para garantir uma geração interessada em aprender e conhecer, o que se viu foram alunos e alunas motivados e envolvidos em preparar suas criações e se dedicarem com afinco para executarem suas apresentações. Nesse contexto, está incluído tudo aquilo que a dança pode promover: a integração, a cooperação, o convívio com as diferenças, o estímulo à criatividade, o conhecimento sobre o corpo, sobre o movimento e, para isso, o refinamento sobre os saberes do espaço que a gente ocupa que é um lugar físico, nosso meio ambiente, e ao mesmo tempo esse lugar cheio de história e das nossas identidades culturais. E cabe tudo isso nas lições vivenciadas por quem dança.

Soma-se a isso o fato do tema dessa edição se debruçar sobre quem ajudou a construir esse município. E em cada coreografia a possibilidade de resgatar a memória de personalidades da política, educadoras, trabalhadores do campo e dedicados à pesca ou a ainda a criadora da Associação Beneficente Amigas da Mama de Imbé (ABAMI) Nilza da Costa Godoy. Enfim, um mergulho na gente que fez ou ainda faz Imbé. Mais lições de história e de cidadania embaladas por passos, canções e versos. Alguns ali juntos, outros buscados na memória. Foi assim que encontrei algumas figuras já conhecida e ao mesmo tempo fui apresentado em tantos e tantas que ainda desconhecia, se não o nome, suas biografias e importância para cidade.

A EMEF Rui Barbosa trouxe uma homenagem ao professor Renê Duque, co-autor da letra do hino de Imbé, que esteve prestigiando a apresentação. E capricharam nos elementos cenográficos e nos figurinos que transformaram a bandeira do município em belas saias rodadas, distribuindo rosas brancas e fazendo os véus coloridos balançarem como ao vento ou como as ondas do mar.

Com garra e empolgação a EMEF Manoel Mendes cantou e dançou a história do seu patrono, ativista que colaborou nas melhorias para o trabalho dos pescadores. Em sequencias dinâmicas e bem ensaiadas entoavam versos como “Só a arte pode transformar a nossa vida”. Foi uma apresentação vibrante e precisa, com um grupo de bailarinas e bailarino desempenhando cada movimento com delicadeza, harmonia e força.

A EMEF Olavo Bilac homenageou a primeira Secretária de Educação, Neiva Matos de Oliveira, que estava presente e assistiu a uma variada sucessão de cenas multicoloridas. Os cenários litorâneos foram representados, estiveram presentes as vendedoras de puxa-puxa e a fé local em referências à festa de Iemanjá.

EMEF Santa Catarina apostou num visual moderno com um elenco afinado e cheio de expressão homenageando o primeiro prefeito João Carlos Wender. As coreografias buscaram inspirações na estética das danças urbanas e a apresentação feita por um aluno, interpretando seu homenageado, cativou o público. Um grupo que podia estar dançando em qualquer videoclipe ou palcos por aí, de tão bem se saíram em cena.

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A ex-diretora Magda Freire da Silva foi surpreendida ao descobrir que era educadora que a EMEF Tiradentes escolheu pra construir sua dança pelos seus 22 anos dedicados à Escola. Alunas com saias floridas e alunos em trajes de pescadores fizeram um sensível tributo a quem escolheu o município, dançando os atributos de suas paisagens como o por do sol na lagoa. Uma narrativa de quem busca seu lugar no mundo, cheio de esperança, e o encontra.

Encerrando a programação, a EMEF Norberto Marinho Cardoso trouxe uma arrebatadora apresentação que mesclou diferentes estilos coreográficos incluindo todo um emocionante gestual em libras, revelando uma preciosa preocupação com a acessibilidade. Uma envolvente trilha sonora embalou as diversidade de criações. As diferentes formações e transições foram realizadas de maneira orgânica e fluída contando a vida do pescador Norberto, que foi responsável por trazer a primeira professora para o município. Uma pequena obra-prima tecida com habilidade, ludicidade, inteligência, bom humor e sensibilidade.

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Ainda teve as apresentações das Escolas Infantis Chapeuzinho Vermelho, Tia Marica, Pedrinha dos Santos, Peixinho Dourado, Iara Martins, Vó Rosa e Vô Jovino que mostraram que a dança também é para os pequenos, que como em uma das coreografias são sementinhas de um amanhã mais otimista. E também foi comovente a abertura dos alunos da EMEF Jusseni Euzébio Oliveira com um comovente trabalho de educação inclusiva por meio a dança, como dizia a canção de Toquinho que escolheram: “e pensar que ali na frente o futuro está”.

Difícil traduzir os inúmeros aspectos positivos que essa iniciativa mobilizou. Ainda mais pra mim que estava no júri ao lado dos colegas educadores e artistas Juliana Ludwig, Marcelo Cabrera e Tatiana Misssel. Foram tantos talentos que dá vontade de pensar em identificar os destaques de pesquisa, de criação, de coreografia, de interpretação, de integração, de qualidade artística, de concepção visual, de criatividade para substituir as colocações limitadoras e pouco didáticas. Ou também pensar num espaço permanente para apresentações no município, em um intercâmbio com grupos como a Cia Municipal de Dança de Porto Alegre, em projetos de formação em dança continuados para preparar ainda mais essa gurizada e até uma cia municipal de dança que pudesse potencializar e projetar futuros artistas para os palcos locais e do mundo, porque não? E o resultado não podia ser outro: emoção que transbordou no palco e na plateia com lágrimas e sorrisos legítimos. Em um mundo cheio de desafios de convivência, intolerância e desumanidades, todos saímos ganhando e ecoando o brado juvenil: “Só a arte (e a educação) podem transformar a nossa vida”. Parabéns Prefeitura de Imbé, Secretaria da Educação Ruth Ruschel, e equipe de produção, e em especial todos professores, professoras, alunos e alunas que trabalharam meses para essa realização. Saiu ganhando todo mundo sim!

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